Quando você vê que tem um filme que foi indicado ao Oscar em 6 categorias e que tem Olivia Colman (A Favorita) e Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes) no elenco, é claro que chama atenção por si só. Contudo, temos uma obra que traz mais do que dois excelentes atores.
Indicado ao Oscar de melhor: filme, ator (Hopkins), atriz coadjuvante (Colman), montagem, roteiro adaptado e design de produção.
No filme, nós conhecemos o "simpático" senhor Anthony (interpretado por Hopkins), que tem um ótimo apartamento em Londres, e assim, podemos ver o mundo sob sua ótica. A sua filha Anne (interpretada por Olivia Colman), no entanto, tem um plano de sair de Londres e ir para Paris. Mas espera aí, será que ela vai para a França mesmo ou vai ficar com seu marido? E ela tem mesmo um marido?
Confuso? Pois é, essa é a identidade de Meu Pai, que tem seu roteiro adaptado da peça de mesmo nome, escrito por Florian Zeller, que também está na direção do seu primeiro longa-metragem com esse filme. Aqui, o diretor sabe o que quer desde o início, o nível de imersão que ele propõe é interessante. Os diálogos são bem trabalhados e vão ditando o ritmo do filme de uma forma que você não consegue se desgrudar da história. Outro ponto que chama muita atenção é como o cenário está totalmente alinhado com a narrativa, em alguns momentos podemos perceber como o cenário, que praticamente se passa em um local só, vai mudando de perspectiva em todos os níveis de detalhes. Em todos os momentos há diálogo, mesmo em situações em que os personagens não estão falando, a montagem nos mostra (mesmo que sútil) que algo está diferente, é um recurso usado em teatro, e que aqui, é muito bem utilizado. Por isso, uma boa dica é assistir o filme mais de uma vez pra perceber a riqueza dos detalhes.
A atuação de Hopkins é digna de aplausos! Tem duas cenas no filme que até dá pra questionar se essa é ou não a melhor atuação de sua carreira. O ator faz muito bem o papel de um senhor com problemas de demência e como é o sentimento de enfrentar uma luta contra a perda da memória, já parou pra pensar como seria isso? Até assustador, por um lado. E outro acerto da obra é oscilar de ser um drama pesado e até mesmo um filme que chega a assustar por ter momentos de desconforto por quase sentir o que o protagonista está passando, e sem uma ótima atuação isso não seria totalmente possível. Vale também mencionar a atuação da sempre excelente de Olivia Colman, que consegue dialogar e passar todo um sentimento somente usando expressões, não é por acaso que foi indicada ao Oscar. Alguns personagens surgem durante a história para dar algum peso ao momento do protagonista, alguns conseguem e outros não conseguem passar algo que gere certo impacto, o que talvez incomode algumas pessoas.
Mas de fato, a confusão é a essência do filme, mas a confusão de que? E aqui a resposta: entre o ser humano e o tempo. O longa transmite sua mensagem por meio dos detalhes como o do relógio por exemplo, e aqui deixo uma reflexão do significado da simbologia do relógio.
Meu Pai, é um filme que traz uma realidade em que todos nós estamos sujeitos a ter, e como perder a noção do tempo pode desconstruir nossa essência, mas também nos faz contemplar boas atuações e uma fina montagem para trazer uma imersão totalmente profunda na narrativa.
"Eu me sinto como se tivesse perdendo todas as minhas folhas..."
É favorito pra levar o Oscar de melhor montagem, os outros são difíceis, já que a concorrência tá forte, principalmente melhor filme e ator.
Nota: 4.2/5 (excelente)