Em meio à Espanha pós guerra civil ouso perguntar: O que é bom? O que é ruim? Como definir o que é belo? Bem, para todos os efeitos, podemos afirmar que esses conceitos definitivamente caem em subversão nas obras de Guillermo del Toro. Adicione o sombrio e o grotesco e você tem o fantástico. O Labirinto do Fauno é a tradução dessa essência. A protagonista, Ofélia, tem contato com criaturas espantosas, dentre elas o Fauno. Ser de aparência amedrontadora e feição sinistra, tem fala polida e demonstra ser bem culto, ao contrário do Capitão Vidal. Militar fascista (no mais preciso sentido da palavra), que logo é apresentado como hostil e extremamente autoritário. Conforme o tempo passa observamos que suas atitudes não são apenas reprováveis, mas como bizarramente abomináveis. Fazendo dele o verdadeiro monstro e uma ameaça real à garota, que tem aproximadamente 10 anos.
Sem cerimônia alguma, o filme avança com um andamento diligente. Ofélia conhece o Fauno que já recita suas tarefas e esclarece que ela é uma princesa (Moana) reencarnada em humana, oriunda de um reino subterrâneo, que é descrito como um lugar sem dor, mentiras ou sofrimento. O que desnorteia nossa referência de o bem remeter aos céus e fortalece a dicotomia do que seria bom ou ruim, já que é um mundo abaixo do nosso.
O longa em si é uma grande alegoria à vida da menina, que possui como arco principal a execução das tarefas naquele momento. A primeira missão é uma metáfora clara à sua mãe, que passa por uma gravidez conturbada de seu irmão, representados pela árvore em formato de útero e o sapo que suga suas energias, respectivamente. A segunda prova é a do homem pálido (que traduz o capitão) em que a mesa é exatamente a mesma do jantar dos oficiais, médicos e políticos no primeiro ato. A última prova seria a de sacrificar seu irmão recém nascido, com o objetivo de comprovar seu caráter.
Embora as subtramas tenham um desenvolvimento não tão complexo quanto a principal, elas auxiliam na construção de personagens secundários, como Mercedes, por exemplo. Não possuem aquela atmosfera fantasiosa, porém é nela que vislumbramos os episódios mais impactantes (visceralmente falando). Sim, me refiro ao espancamento e assassinato dos dois prisioneiros.
Em um texto bem sintetizado, podemos resumir assim O Labirinto do Fauno. Para finalizar, posso dizer que esta é uma película de fotografia e maquiagem invejáveis. É a mente e o talento de Guillermo del Toro expressos em 1h e 58min: vilões cruéis com atitudes aterradoras, criaturas que assustam mas que compõem um mundo ímpar, de magia pulsante e imaginação vívida e protagonistas determinados a seguir esse mundo e seus elementos como uma crença pessoal. O resultado é o que já se espera dos filmes desse diretor tão singular: nada menos que o fabuloso e o exótico.
Curiosidades:
- Guillermo del Toro sonhava com um fauno na infância, tendo nele a inspiração para o filme;
- O diretor recusou propostas de Hollywood para a produção do filme, sendo firme em fazê-lo todo em espanhol;
- Ele também nutre antipatia por cavalos, detestando trabalhar com estes animais. As gravações só aumentaram sua repulsa;
- Doug Jones interpreta o Fauno e o Homem Pálido.